Beleza e Lembranças (by Gian)


Delicadeza. O que me impressionou no novo filme de Apichatpong Weerasethakul é a forma sutil, bonita e delicada de como a morte é analisada.
Feito através de memórias, visões e episódios às vezes independente, Tio Boonmee Que Pode Se Recordar de Suas Vidas Passadas nos envolve em um clima tranqüilo e suave de uma pequena casa rural habitada por quatro pessoas simples. Tio Boonmee, personagem principal, sofre de uma insuficiência renal, sente dores e pressente que seu fim está próximo. Contudo, ele não teme a morte. Tendo o budismo como religião, a família crê na reencarnação e na transição das almas, e com essa paz interior eles continuam levando uma vida feliz e quase sem preocupações, quase...
A felicidade ainda não é completa pelo fato do Tio Boonmee ter feito algo muito ruim quando moço, ele participou de uma guerra e matou muitos comunistas, e isso ainda tira um pouco de sua paz interior. Mas o apoio e as respostas para suas dúvidas começam a vir não só de seus parentes vivos, mas também daqueles que já se foram. E o legal disso tudo é que o diretor não recorre a nenhum efeito especial para focar os parentes mortos, pelo contrário, chega a ser assustador a forma em que seu filho aparece no meio da selva em um dos primeiros momentos do filme.
A fotografia é o que mais impressiona, mas não é um mérito isolado, ele é todo bem trabalhado, a edição está maravilhosa, cada imagem, cada cena parece vir na hora e na medida exata. O filme é rico também na beleza das tradições orientais, como acontece numa de suas cenas isoladas, em que uma princesa, já idosa, vê seu rosto jovial através das águas de uma linda cachoeira, e assim é seduzida por um estranho peixe, numa das mais belas e longas seqüências do filme.
Tio Boonmee é arte na sua forma mais pura, mais delicada, mais natural, e fala de uma coisa que tememos, a morte. É um filme para ser degustado e digerido em paz espiritual.

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