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Mostrando postagens de 2015

Dor e Crença

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Claudia Llosa é uma cineasta peruana. Ela levou o Urso de Ouro em Berlim em 2009 pelo sensacional “A Teta Assustada”, que fala sobre a cultura indígena peruana e suas influências europeias, e pra mim o melhor filme já realizado naquele país. Ela é sobrinha do escritor Mário Vargas Llosa, Nobel de literatura em 2010. Então, estamos falando da nata cultural do Peru, país cuja expressão internacional normalmente fica atrelada a sua civilização milenar o ao credo de visitas alienígenas. “ Marcas do Passado ” (Aloft) é o terceiro filme da diretora, e o que tem em comum com os antecessores é a marcante presença feminina, às vezes não como heroína, mas como gente como a gente, que tem que tomar decisões, optar por escolhas e encarar suas consequências. Cética e com um filho doente já desacreditado pelos médicos, Nana Kunning vai atrás de um curandeiro famoso na região, cuja procura é tanta que existe um sorteio para ver qual criança será “atendida” por ele. Contudo, a visita

Forever Young

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Eu só percebo que estou envelhecendo quando vou pegar algo pesado e sinto aquela fisgada em uma região do braço que até então eu nem sabia que existia, que dirá que poderia passar algum nervo cujo esforço o fizesse doer. Sempre achei que minhas preferências e escolhas, meus gostos e minha cultura, permaneceram em mim um tanto fieis desde que eu soube filtrar pela primeira vez lá na adolescência o bom do ruim, a arte do borrão, o céu do inferno. Algumas mudanças normais da idade nosso corpo se limita a aceitar, e não paramos para pensar muito nelas, como por exemplo deixar de ver desenho animado, não comer três pacotes jujuba em dois minutos, ir diminuindo o ritmo no videogame e no álcool, começar e ver TV Senado, etc. De resto vamos envelhecendo sem nos dar muita conta disso, os anos passam e acabamos achando graça da molecada que comete as mesmos erros que cometíamos, que faz as mesmas merdas que fazíamos. Mas de vez em quando vem a saborosa recordação daquela nossa juventude sem

Servidão Serva Sérvia

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V ocê pode achar um absurdo que a primeira cena do filme seja a de um rapaz que parece ameaçar a menina, e que ela aparentando medo se deixe bolinar enquanto é filmada pelo celular, câmera essa usada em grande parte do filme para mostrar sexualidades. Mas estamos diante de um filme de amor. Você pode achar que já deu no saco esses filmes com adolescentes se drogando e abusando do álcool, e que essa rebeldia já foi filmada mundo afora desde a década de cinquenta, e nada mais é novo, ou assusta. Mas dessa vez, estamos diante de um filme de amor. E se você é conservador, evangélico ou moralista, e não desligar o filme nas primeiras cenas de masturbação, e aguentar calado o sexo oral explícito, ou mesmo o rapaz se masturbando e jorrando esperma na barriga da menina, você vai ver que se trata de um filme de amor. Então, se você começar a se interessar pelos personagens, e ver que há sentimento envolvido entre jovens que vivem em um país cujo passado recente foi marcado pela gu

Novos Ares, Consequências Incertas

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Toda pessoa casada – ou que namore há bastante tempo – quando sente o relacionamento esfriar, ou mais especificamente, quando percebe que a “cama está ficando morna” e não quer trair o parceiro, senta pra conversar. Eis uma atitude honesta: reconhecer o declínio e tentar mudanças de melhoria. Do diálogo entre os pombinhos que caíram na mesmice podem advir muitas surpresas, ideias e tentativas de solução, e a mais comum de todas é a abertura a novas experiências sexuais, outros fetiches; partilhar fantasias que até então ficavam presas em um compartimento seguro do cérebro e que só eram liberadas nas solitárias masturbações no chuveiro ou em frente a um monitor de computador. Dependendo da receptividade das indiretas jogadas ao acaso, a primeira ideia que vem, principalmente dos homens, é por mais alguém na relação,e de preferência uma mulher mais jovem, bonita e que toparia participar de um ménage à trois sem frescuras. As consequências disso podem ser a mais variadas, para o b

Amor Suicída

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A revolução francesa aconteceu, rolaram cabeças em um país bem próximo, e o povo clama por direitos sociais. Os lemas liberdade, igualdade e fraternidade são levantados, são impostos, estão em expansão, e o clamor por igualdade é a grande pedra no sapato da alta sociedade no começo do século XIX. É esse o ambiente que o fio condutor de AmourFou percorre e entra na intimidade da alta sociedade alemã e no seu medo de perder os privilégios conquistados através da exploração da classe pobre: dos altos impostos obrigatórios somente para quem tem pouco poder aquisitivo, dos baixos salários para os que mais trabalham e de toda uma repressão econômica e social que contrastava no conforto de poucos e na miséria de muitos. Agora os agricultores começam a não pertencer mais ao senhor feudal, começam a se negar a pagar altos impostos e a se mobilizar contra as injustiças de uma classe que até então se julgava intocável. A diretora húngara Jessica Hausner usa como pano de fundo esse cená

Difícil Ressocialização

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Penitenciárias são escolas do crime, quem cumpre pena pior sai. Lá se mesclam delitos de diferentes graus: facções dominam alas, celas e andares, fazendo com que aqueles que antes não tinham vínculo com o tráfico ou com maiores crimes, sejam obrigados a cooperar, a depender de favores e a se unir a algum grupo criminosos que controla a criminalidade dentro e fora da cadeia. E ainda há aqueles que defendam a redução da maioridade penal, querem colocar nossos jovens em um covil de marginalidade cuja visão de futuro somente será através do crime, da violência. Mas isso é assunto para uma outra postagem, muito mais abrangente e detalhada, e vou esperar que o Senado vete o texto da redução, que só passou na Câmara pela manobra política do peçonhento Eduardo Cunha, para me manifestar melhor sobre o assunto. Vim falar de cinema grego. De dia ele é confeiteiro em uma padaria, de noite é assassino profissional. Foi preso por homicídio, supostamente qualificado: assassinou com muita vio

Mortensen + Alonso = Cinema de Qualidade

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O cinema argentino me surpreende a cada dia, a cada filme. Sinto-me obrigado a ficar sintonizado o máximo que posso com as novas produções e os novos nomes que saem do país vizinho. Jauja é uma produção que envolve vários países, inclusive o Brasil, mas é sob as mãos criativas do cineasta Hermano Lisandro Alonso que o longa é embalado, e suas opções e parcerias são no mínimo curiosas: Um pop Star pra ser o principal nome do filme - Viggo Mortensen (que também assina a trilha sonora), um diretor de fotografia finlandês - Timo Salminem, e um roteiro originalíssimo vindo da literatura fantástica Argentina onde de imediato não sintonizamos data nem local dos acontecimentos em questão.   O filme começa com Mortensen conversando com a filha sobre coisas cotidianas, ambos encostados um ao outro num cenário lindíssimo que indica ser a Patagônia. Antes disso, o filme se abre com um texto, explicando que Jauja é um lugar mitológico que as pessoas acreditam existir, mas todos que o p

Tempos de Adolescente

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Em 2010 James Franco publicou um livro semi-autobiográfico cujo tema eram as desventuras de um grupo de amigos do colegial que passavam a maior do tempo fumando maconha, gastando o dinheiro dos pais e se alcoolizando em festinhas classe média alta californiana. Três anos depois ele resolveu levar o trabalho para as telas de cinema, ajudou na produção e deu a direção para minha xará Giancarla Coppola, neta do Mestre Francis Ford Coppola, e sobrinha da grande cineasta Sofia Coppola. O que a jovem diretora tinha em mente (com apenas 28 anos de idade) era fazer um trabalho alternativo, sem grades pretensões ou recursos. Reuniu um grupo de atores novos e contou com a participação de Franco e Val Kilmer pra dar um peso no elenco. E o resultado não é ruim, Palo Alto se foca exclusivamente na realidade triste e monótona de um momento na vida, ou melhor, na idade, em que pessoas não têm outro interesse além de ficar chapado e querer aparecer. É nesse pano de fundo regado a drogas e

Fugindo dos Nossos Fantasmas

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Não sei se eu que estou exigente demais ou se os filmes de terror de hoje não estão mais tão assustadores como os de antigamente. Pode ser também a tendência da idade ir atenuando nosso sensor de medo e nada mais assustar como antes fazia. Só sei que   hoje em dia é raro aparecer alguma coisa que preste do gênero, as refilmagens são ruins, os enredos clichês e tudo parece um enlatado de imitações sem inovações. Então quando vejo algum filme de terror atual e bom, me da uma vontade danada de gritar bem alto: ATÉ QUE ENFIM PORRA! Foi o que aconteceu com “ Corrente do Mal (It Follows) ”, filme feito com baixo orçamento, atores pouco conhecidos e uma boa idéia na cabeça. Assim como a AIDS, aqui o Mal vem através da penetração. Só por essa premissa o filme já trás uma carga de questionamento ético que faz embalar um roteiro cheio de suspense e escolhas morais. O longa se inicia com uma garota amedrontada fugindo pelas ruas de sua pequena cidade, correndo sem destino, e não soli

Voltando....Carreira solo. Mais presente daqui pra frente! (Gianzito)

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Prêmio Nossa Biboca de Cinema 2015 (by Gian)

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Na verdade eram pra ser dez filmes escolhidos, mas não deu. 2014 foi um ano muito bom pro cinema mundial, e na verdade eu poderia listar até 50 grandes nomes aqui, contudo, depois de muito sacrifício e sem querer deixar nada de fora, mas já deixando, elenco aqui com muita honra os quinze melhores filmes do ano passado. E o cobiçado prêmio “nossa Biboca de Cinema” de 2014 vai para: 1 - “ Miss Violence ” de Alexandros Avranas (Grécia) – É um filme pesado, confesso! Talvez o mais forte dessa lista, apesar de outros também fazerem frente a ele neste quesito. Todavia, o que mais me impressionou foi a habilidade do diretor em nos mostrar o drama de uma família massacrada por um pai/avô sádico e cruel que se aproveita de sua posição de “homem da casa” para fazer o mal como forma de prazer e poder. A cena que abre o filme é a do suicídio de uma menina de dez anos no seu aniversário.O sorriso nos lábios na hora do salto para a morte é o significado da liberdade de uma vida sem ra

Justiças e injustiças do Oscar (by Fabi)

Melhor filme - Injustiça Gostei de Birdman, mas BoyHood merecia ganhar. Melhor Ator - Injustiça Michael Keaton estava deslumbrante, saindo do ostracismo de maneira singular, coisa que só grandes diretores conseguem fazer pelo ator, assim como Tarantino fez com John Travolta em Pulp Fiction.. Melhor filme estrangeiro - Injustiça Apesar de ter gostado de Tangerines, o prêmio deveria ir para Relatos Selvagens. O que prova que nossos Hermanos continuam anos-luz em nossa frente em se tratando de sétima arte. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Justiças: Inãrritu - I love you! Mas confesso que lá no fundo, torci para o Wess Anderson. Juliane Moore - Diva. Já estava passando da hora. Patricia Arquette - Digna em seu papel , como poucas coadjuvantes que já vi em cena. J.K. Simmons - Finalmente teve seu talento reconhecido. É um ator fantástico, já desde os tempos de Oz. A cada ano que passa, me con

Biboca, Pipoca e Oscar (By Gian)

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É hoje que Hollywood escolhe os melhores de 2014 na premiação da sétima arte mais popular do mundo. A importância do Oscar para o cinema é enorme, consagra diretores, atores, técnicos, estúdios, músicos e tudo mais que você possa imaginar e que tenha algum tipo de relação com o produto final: O filme. Longe de ser a mais justa, é a competição que mais atrai olhares, críticas e dinheiro. O cinema hoje está em festa. O Brasil não está representado em nenhuma categoria, mas nossos hermanos estão firmes e fortes, e com grandes chances de levar o prêmio de melhor filme na categoria de língua estrangeira por “Relatos Selvagens”, longa que ainda não assisti mas que de semana que vem não passa! Na verdade, eu sempre gosto de fazer antes do Oscar a premiação desse blog, ou seja, de eleger os dez melhores filmes do ano no nosso já tradicional prêmio “Nossa Biboca”. Gosto de postar antes do Oscar que é pra neguinho não me acusar de estar sendo manipulado ou de copiar alguns dos premiado

Características da Emoção (by Gian)

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A vida em sua forma mais pura, a natureza no comando das ações. Em “ OSegredo das Águas ” , a diretora japonesa Naomi Kawase trás a leveza de uma pequena comunidade oriental banhada pelo mar, e a descoberta do amor por um casal de adolescentes que lidam com problemas sentimentais dentro de casa. Ela, com a notícia da proximidade da morte da mãe, tenta viver cada dia como se único fosse. Ele, que habita com a mãe recém-divorciada que recebe mais de um namorado dentro de casa, lida com o ciúme e o ódio mesclados com amor. Os sentimentos se inflamam quando um corpo é encontrado na praia, e a questão morte é se evidencia ainda mais na realidade dos personagens. O filme é de uma leveza característica da filosofia oriental, com uma paz visual relaxante e uma belíssima trilha sonora. A união de uma família embaixo de uma árvore na certeza de que aquele momento de felicidade será o último. A dor e a culpa de um filho depois de uma injusta briga com a mãe. A fuga na passagem de um tufã

Cínico e Calculista (by Gian)

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Não sei se é um defeito ou uma qualidade, mas o fato é que Iñárrito é transparente demais em seus filmes, e seu olhar pode ser de uma doçura angelical ou de uma frieza cruel, dependendo do tema ou dos personagens que passam por suas mãos. Não é difícil notar em seus filmes esse vínculo emocional com seus personagens, ele os cria com o propósito de ser seu único dono, e como um Deus único os pune, perdoa ou   absolve, não sem antes dissecar minuciosamente seus sentimentos, defeitos, erros e temores. Em " Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) " , Iñárrito é e faz isso tudo, mas em vez da frieza costumeira ele opta pelo cinismo cruel, e sua transparência pode ser até questionada pela irrealidade das passagens surreais em que Riggan Thomson  (Michael Keaton) se esconde por trás do herói que dá nome ao filme, mas mesmo aí nos vemos diante de uma obra com críticas pesadas e diretas, e dessa vez o diretor mexicano não extrai suas premissas de nenhum bando marginaliza

Sob o Cuidado Humano (by Gian)

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O que pensam os soldados, os combatentes do front de uma guerra a respeito da mesma? Quais são seus ideais? Por que estão ali? Patriotismo, defesa do território pelo qual se acha devido? Dinheiro no final das contas? Lavagem cerebral das forças militares? O que é uma guerra? O filme é estoniano e tem um nome curioso “ Tangerinas ”. É de guerra, mas não se passa em um campo de batalha, não tem canhões ou tanques se explodindo. O palco principal é um vilarejo quase deserto, que só não está completamente vazio porque um senhor decidiu ficar em casa pelas lembrança que ali se encontram, pela nostalgia de um recente passado feliz, onde atualmente a guerra local fez com que todos os moradores se mudassem. Seu único companheiro é o vizinho, cultivador de tangerinas que apesar do amor pelo trabalho que exerce também está de mudança, cansado de não ter comprador para suas colheitas ou pessoas para um convívio normal. A vida dos dois sofre uma repentina mudança quando dois carros milit

Isolamento Interior (by Gian)

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Pelo segundo ano consecutivo Cannes entrega seu principal prêmio para um filme com mais de três horas de duração. Em 2013 o sensacional “Azul é a cor mais quente” levou o cobiçado prêmio como um caliente filme LGBT com longas e belas tomadas de sexo explícito entre duas mulheres, ótimas atrizes por sinal. Dessa vez os longos e arrebatadores diálogos de “ Winter Sleep ” parecem ser os fatores que mais seduziram os críticos de Cannes.   A duração se justifica pela forma como o diretor nos apresenta as personagens. Uma pedra é jogada na vidraça de uma caminhonete em movimento, quase causando um sério acidente, o homem no banco carona corre e pega o menino que atirou a pedra. A partir daí as histórias de diferentes pessoas de um vilarejo começam a se cruzar, tendo como personagem principal Aydin, dono de um hotel e figura respeitadíssima na região, já que está no topo das classes sociais e cujas atitudes acabam tendo reflexo na vida dos demais moradores, já que a maioria é inquil

Ahhhh Ridley...! (by Fabi)

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Eu sou uma super fã de filmes em 3D. Me acomodo na poltrona, ponho o óculos, me arrepio, me emociono e tudo, pq eu considero uma das maiores inovações já existentes em termos de 7ª arte. E eu criei tantas expectativas com Êxodo - Deuses e Reis, mas tanta, que eu cheguei ao cinema em cima da hora da sessão e fui capaz de abandonar meu amigo que chegou depois e , consequentemente, ficou sem ingresso. Corri por todo o saguão, subi as escadas rolantes correndo e finalmente cheguei. Ansiosa, mãos suando, coração acelerado (só entende quem gosta). Parecia uma criança quando o filme começou: sorrindo e lacrimejando comecei a ver retratada na tela, uma das histórias bíblicas mais lindas que conheço. Detalhe: conheço e acredito. Mas o que tinha tudo para ser o Ben-Hur dessa década, foi aos poucos, se tornando um filme cansativo, com uma belíssima fotografia, mas mal editado e o principal: sem ter como parâmetro a Bíblia, de onde se origina a história. Fatos que não constam na Bíblia, algumas

trinta e poucos anos ou mais (by Gian)

Aniversariar no sétimo dia do ano é uma coisa estranha, o reflexo das festas de natal e reveillon ainda está pululando no sangue da gente, as pessoas ainda estão em ritmos de feriado prolongado e o mundo parece que não acordou para dar alguma importância para a sua data comemorativa. Porém o mais estranho é entrar na quarta década de vida se sentido ainda na segunda. O corpo vai envelhecendo, vai mostrando sinais de mudanças ao impor certos limites, mas a mente insiste em rejuvenescer, o tesão pela vida parece maior, a vontade de saber parece que cresceu como aquela que crianças recém apresentadas ao mundo tem na fase dos porquês. Uma estranha paz parece querer espaço em locais do meu corpo onde até então a morada da agitação era bem vista pela vizinhança, e o mais extraordinário nisso é que a mente consegue ajustar essas transformações de forma a sobrar espaço, tempo e vontade para outras coisas que eram mais importantes em outras épocas e que agora podem ser usufruídas de forma