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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Alternado leveza e peso, François Ozon fala sobre o amor adolescente nos anos oitenta.

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Aqueles que já frequentaram um pouquinho o Festival de Cinema do Rio , que enfrentaram filas enormes para ver as estreias dos seus diretores favoritos, sabem que têm filmes cujos ingressos são praticamente disputados a tapas. Três nomes do cinema europeu exigem esforços do cinéfilo para um lugarzinho dentro da sala de cinema, são eles Pedro Almodóvar, Lars Von Trier e François Ozon . Cineastas consagrados, premiados e venerados, essas caras na maioria das vezes conseguem ser mais famosos que os atores de seus filmes. O Novo filme de François “ Verão de 85 ” exibido oficialmente nos Festivais de San Sabastian, Toronto e Cannes de 2020, é o trabalho mais fraco do diretor, mas não é de todo ruim. Mesmo sem saber quase nada sobre produção e roteiro, com vinte minutos de filme eu já tinha adivinhado algumas coisas da história e que a mesma com certeza era baseada em algum livro. E sim, Ozon aos dezessete anos leu o romance inglês “ Dance on My Grave " e esse virou seu livro de cabe

Perda, envelhecimento, pouca funcionalidade social.

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 O filme A   Bruxa de Blair de 1999 foi um divisor de águas nas produções independentes do cinema estadunidense, pois reativava com muito sucesso o chamado gênero found footage – filmes baseados em imagens amadoras e supostamente reais encontradas ao acaso – sendo um estrondoso sucesso de bilheteria, que reinauguraria o gênero, e que passaríamos a ver diversos falsos documentários como se fossem reais tais histórias, com atores se passando por pessoas em seu dia a dia, que filmavam experiências cômicas, fantasmagóricas ou dramáticas de suas vidas pessoais. Em “ Nomadland ” a cineasta chinesa Chloé Zhao, parte de uma premissa contrária: Se baseia em um livro autobiográfico, pega uma atriz de verdade e realiza com extrema competência um filme real, beirando o gênero documentário, mas com formato de drama ficcional. Aplaudido de pé nos festivais de Veneza, Toronto e Telluride, o filme recebeu o Leão de Ouro , prêmio máximo do festival Italiano. Logo em sua abertura a seguinte legend

Isolamento pela busca da redenção

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 Meu primeiro contato com Abel Ferrara foi em fita de VHS, na locadora do Renato Careca, no Centro de Nova Friburgo, em meados de 1987. Eu, adolescente espinhento de 12 para 13 anos, era talvez o maior rato de videolocadora da cidade. Nessa época, o usual era optar por um dos planos de 10, 20 ou 30 filmes por mês, e assim se tornava “Sócio” da locadora. Minha mãe, por muita insistência minha, comprava a cartela máxima, de 30 filmes, e se fosse mês de férias, ainda tinha que comprar outra cartelinha menor para preencher os dias. Resumindo, minha mesada era toda para isso, e um disco de vinil quando eu me comportava. Então eu assistia de tudo, de Orson Wells à George Lucas, de Buñuel à Renato Aragão. E em uma dessas batidas de feriadão em que eu retirava seis filmes da loja, me esbarrei com “Sedução e Vingança” do Ferrara. A mulher violentada que se vestia de freira para matar estupradores com seu revolver 45 me conquistou, era melhor que Bronson em Desejo de Matar e mais underground q

Samal Yeslyamova, reconhecida melhor atriz em Cannes, é Aika. Um retrato desumano de toda vítima da exclusão.

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O cinema leste europeu sempre foi muito impactante, e o que me atrai nessa escola cinematográfica é a proximidade com a realidade, seja no roteiro, na fotografia, nas atuações e principalmente na competência da direção em nos situar lá no núcleo dos acontecimentos da forma mais fria possível.   Nos dez primeiros minutos de "AIKA" eu já não piscava mais, a cada tomada da câmera, no desespero de uma imigrante em busca de qualquer emprego abusivo no rigoroso inverno russo, em troca da sobrevivência. Mas as porradas não estão focadas somente na via crucis dessa mulher que acaba de parir e abandonar o bebê na maternidade para salvar a própria vida em trabalhos clandestinos e precários, elas surgem no próprio pano de fundo de uma sociedade já costumeira com a miséria daqueles que já nem força possuem para pedir, ou mesmo tentar. Alguns códigos culturais da realidade em que vivemos surgem em flash ao redor das necessidades mais fundamentais do ser humano: como o curso de business

Para onde seguir quando seu coração não cabe mais onde está?

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Não dá para ficar escrevendo, e muito menos pronunciando, os nomes dos diretores de cinema tailandeses. Há 11 anos, o filme “ Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas ” ganhava a cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, e o apresentador deve ter tido dificuldades ao chamar Apichatpong Weerasethakul ao palco para entregar a premiação. Agora, no penúltimo festival de cinema de Veneza, outro conterrâneo de nome impronunciável levantava um dos prêmios mais cobiçados da noite, o troféu “ Orizzonti ”, que é dado ao diretor com a visão mais ampla para as novas tendências nas linguagens expressivas que convergem no cinema, e Phuttiphong Aroonpheng foi chamado para receber mais um dos vários prêmios que “ Manta Ray ” já conquistou mundo afora. Assim como “ Tio Boonmee ”, Manta Ray também dá uma flertada, só que bem mais de leve, com o misticismo, o sobrenatural, ou o imaterial que uma ampla floresta esconde na sua infinita história.   Contudo, nenhum dos dois fil

E foi assim, há 46 anos, e mais alguns outros...

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  Às dez horas da manhã, do dia 07 de janeiro de 1975, em um hospital já demolido da Cidade de Nova Friburgo, eu nascia. Era uma terça-feira ensolarada, e meus pais moravam relativamente perto do hospital: da nossa residência na badalada Rua Portugal até o Paissandu não dava nem dez minutos de carro. Nessa época, com poucos carros, não tinha quase semáforos na cidade serrana. O fusquinha do papai seguiu tranquilamente para o hospital no meu último passeio dentro da barriga.   A família já se concentrava no pequeno saguão da ala da maternidade da Casa de Saúde São Lucas quando mamãe entrou para fazer a Cesariana, alguns minutos depois surgia chorando um pequeno serzinho igual a um morango de quarenta e oito centímetros, só que cabeludo e pesando pouquinho mais de três quilos. Só que essa história não começa aqui, começa dez anos antes, em 1965, no Bairro Ponte de Saudade, também em Nova Friburgo. O Sábado amanheceu com cara de chuva, fazia muito frio, mas era o dia da festa do seu ani

A Dupla Vinterberg e Mikkelsen se reúne depois de 8 anos em DRUK, filme aplaudido no ultimo Festival de Toronto

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  Para começar a falar de cinema em 2021 tem que ser enfiando o pé na cachaça e abrindo o ano com chave do ouro. Nos anos de 1990 do século passado (olha como estou velho?!) quando eu cursava Direito, havia um saudoso professor de Processo Civil que aconselhava aos mais tímidos que fizessem uma visita ao barzinho da esquina antes de apresentarem oralmente suas defesas de tese: “Nada como uma ou duas cervejinhas, ou mesmo uma dose de vodca para aliviar o estresse e ajudar a mente a organizar o que foi estudado ao longo do tempo”. No primeiro ano de Faculdade, o carrasco da turma era o Saudoso e já falecido Mestre Walter Viera do Nascimento, que lecionava História do Direito, e era especialista na questão da problemática do álcool como agravante penal, sempre que abordava o tema abria um parêntese: “ Porém, uma cervejinha ou um copo de vinho durante o dia é necessário, nesses meus quase 80 anos, sempre bebo uma garrafa de cerveja todos os dias. ”  Chico Science já dizia que “uma cerveja

O ano se inicia, as postagens voltam.

  Depois de exatos um ano e seis meses volto a escrever aqui no blog. Esse longo período sem mexer aqui me fez esquecer de como funcionam as coisas. Queria mudar, por exemplo, essa minha foto aí a direita, que já está mais que ultrapassada, nem parece mais comigo. E o layout do Blogge r também mudou, mudaram as configurações de postagens, e fiquei perdido, as coisas se modernizaram nesse período, fiquei para trás. O que me forçou a parar foi o desgosto com o momento do país, com a ignorância de pessoas que eu já tive uma convivência pelo menos amistosa, e que mostraram a cara nessa abertura que o Brasil e a América do Norte deram para extrema direita. Sim, os Bichos Escrotos saíram dos seus esgotos e vieram nos mostrar seu “nobre” paladar; toda aquela podridão de ideias que se escondia e se acumulava desde a derrubada da ditadura, e que ficou difícil sustentar no breve período democrático que tivemos, das Diretas ao golpe institucional de 2016, renasceu. Com o Bolsonaro no poder as car