Dor e Crença



Claudia Llosa é uma cineasta peruana. Ela levou o Urso de Ouro em Berlim em 2009 pelo sensacional “A Teta Assustada”, que fala sobre a cultura indígena peruana e suas influências europeias, e pra mim o melhor filme já realizado naquele país. Ela é sobrinha do escritor Mário Vargas Llosa, Nobel de literatura em 2010. Então, estamos falando da nata cultural do Peru, país cuja expressão internacional normalmente fica atrelada a sua civilização milenar o ao credo de visitas alienígenas.

Marcas do Passado” (Aloft) é o terceiro filme da diretora, e o que tem em comum com os antecessores é a marcante presença feminina, às vezes não como heroína, mas como gente como a gente, que tem que tomar decisões, optar por escolhas e encarar suas consequências.
Cética e com um filho doente já desacreditado pelos médicos, Nana Kunning vai atrás de um curandeiro famoso na região, cuja procura é tanta que existe um sorteio para ver qual criança será “atendida” por ele. Contudo, a visita não ocorre como esperado, e quando o falcão de estimação do seu outro filho sofre um acidente durante a cerimônia e acaba com a sessão de cura, as coisas mudam a sua vida.
A partir daí ficamos diante de uma história atraente e desconfortável: uma mãe que perde o filho que mais ama, ou talvez aquele que mais a ocupe por se tratar de uma criança doente, e que com a dor da perda é convencida de que tem o poder da cura, já que uma outra criança é curada dos olhos depois de receber seu toque. Essa dúvida se entrelaça com sentimentos de impotência e enfastia, e ela abandona o outro filho na esperança de ser portadora de milagres, e vai para um local quase inóspito para não ser mais encontrada.
Filmado em meio ao deserto gélido canadense o filme tem uma boa trilha sonora e a excepcional atuação (apesar de um pouco curta) de Cillian Murphy, que dezoito anos depois vê a oportunidade de se encontrar com a mãe que o abandonou sem muita explicação. É um filme bonito, tanto na fotografia quanto na mensagem que passa. E apesar de parecer ter um final um pouco injusto, é fiel à vida cotidiana, que nem sempre é justa em seus nobres momentos.

Nota 8,0

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