Lembrança de uma mente inquieta



Como prometi na postagem anterior, vou comentar sobre alguns filmes que poderiam entrar na lista dos melhores do ano, mas que não deu tempo de assistir antes do seu fechamento. Hoje falo de uma animação adulta superinteressante chamada “Anomalisa”do diretor e roteirista estadunidense Charlie Kaufman, vencedor do Oscar em 2005 pelo extraordinário roteiro de “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”.

Aqui, e mais uma vez, o diretor explora o lado emotivo da mente humana, e faz um paralelo entre a verdadeira atração que sentimos por alguém, e aquela afeição inconsciente e automática que nos é posta pelos padrões de beleza e aceitação aprovados pela sociedade. É ao mesmo tempo bonito, profundo e assustador, pois investiga a rotina cotidiana da busca pelo amor, a solidão e especialmente a ansiedade.
O Protagonista principal é um escritor deprimido cujo único best seller é um livro de autoajuda usado por grandes empresas intitulado “Como posso ajudá-lo a ajudar?", que se tornou meio que leitura obrigatória nos departamentos de vendas de produtos e serviços. Sua rotina profissional é  viajar pelo país ministrando monótonas palestras para grupos desinteressados e iguais. Aproveitando que seu casamento não vai bem e que vai estar numa cidade onde mora uma ex-namorada que não vê há anos, o palestrante pensa em quebrar a rotina, entrar em contato e marcar um encontro. Mas o que vê é somente mais do mesmo, todos tem a mesma voz, as mesmas características, as mesmas falas. De volta ao hotel, pensando em dormir, ele ouve uma voz diferente de todas as demais, e nesse momento ele começa a perceber que todas as nossas atitudes e decisões são feitas quando usamos uma máscara, nunca somos nós mesmos trabalhando com nossas reais necessidades e sentimentos. E observando ao redor, o protagonista começa a perceber que vive num ciclo vicioso e repetitivo, e que sua própria vida passou a ser quase totalmente uma cópia da ideia do seu próprio livro – Posso te ajudar? – onde o serviço prestativo dos hotéis e os pedidos de autógrafo se baseiam na mais pura ideia de uma cultura americana vazia onde atitudes falsamente amigáveis nos dá constantemente a sensação de estarmos rodeados de pessoas interessantes, quando na verdade o interesse é que prepondera nessas relações.
O problema da incapacidade de conexão de pessoas nas grandes metrópoles é vista sob um ângulo objetivo, e ao olhar no espelho o personagem adulto se pergunta pela primeira vez na vida, quem é esse?

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