Tirando beleza da tristeza (By Gian)

De vez em quando a porrada vem de quem você gosta.

Nunca fui de ler sinopses de filmes, nunca os escolhi assim. Antigamente, nos tempos das locadoras, onde eu entrava e tinha um monte de caixinhas dependuradas nas prateleiras sob gêneros de drama, suspense e terror, eu jamais lia o conteúdo. Amava saber dos diretores, das premiações e às vezes as curiosidades ocorridas durante as produções, mas a história não, isso nunca, queria surpresa do começo ao fim.

Agora que pego filmes com mais facilidade da Internet, não leio mais nada sobre. Acompanho somente repercussões dos festivais internacionais que mais gosto ou baixo pela ficha técnica de diretores, fotógrafos e roteiristas. Às vezes nem isso. E foi numa dessa que levei a porrada.

BIUTIFULeu baixei por que sabia que Javier Bardem havia ganhado Goya e Cannes de melhor ator, e que havia concorrido como melhor estrangeiro no Oscar, Bafta e Globo de Ouro. Mas não tinha me ligado que era dirigido por Alejandro González Iñárritu, por quem sou apaixonado, mas que necessito um certo preparo emocional para assisti-lo.

São mais de duas horas de uma excepcional direção, com uma atuação exemplar de Barden, num roteiro em que mediunidade, homossexualismo, ilicitude, prostituição, bipolaridade e luta contra o câncer são mostrados de forma crua e sensível. Um quebra cabeça cujas respostas não vêm tão fácil nem açucarada como num conto de fadas. Iñárritu não faz um filme pra ser visto comendo pipoca e chupando bala, mostra a vida de pessoas que moram ao nosso lado e que tentam em vão uma sobrevivência com dignidade. Felicidade não é mais procurada, há coisas mais necessárias em suas lutas.

E daí saiu à porrada, o soco forte no estômago, pois se trata, sem dúvida alguma, da obra mais negra, crua e melancólica do cinema em 2010, feita com câmera na mão, ruas imundas, personagens sofredores e uma realidade que nos ronda e que às vezes fingimos ignorar. Imperdível! Assista, mas esteja preparado!

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