Lembranças (by Fabi)

Há uns dias que tenho tido muitas lembranças de pessoas que amei e que partiram. Que partiram voluntariamente e involuntariamente. Especialmente minhas duas avós, a materna e a paterna. Lembranças de minha infância quase solitária, se não fossem 3 primos maldosos, quase sádicos, que brincavam e brigavam muito comigo e que hoje são pessoas que gosto muito. Lembranças de brincar na linha do trem em Éden, que de paraíso, na verdade, tinha muito pouco, a não ser aqueles momentos mágicos que eu podia correr livremente entre os dormentes de madeira velha, que eu considerava o verdadeiro Jardim do Éden. Da casinha de telha da vovó Carlinda, que quando chovia forte, parecia que ia desabar. O barulho era ensurdecedor. De como a Dona Carlinda era durona. Mulher guerreira, desbocada e brigona. Mas muito amorosa. Do macarrão vermelho, que ela só fazia quando íamos lá. Do cheiro de perfume Avon que ficava pela casa depois q ela tomava banho. Da felicidade estampada em seu rosto quando, a única filha e a única neta que moravam longe, atravessavam a ponte para ir à sua casinha e de como minhas primas morriam de ciúmes, pq TODAS as atenções eram voltadas para mim...
Foi uma época de muito amor. Uma infância feliz.
Tenho tido lembranças de minha avó Dinah, de seu cafezinho de manhã, às 07h, que me oferecia quando passava para ir ao trabalho. Dos Natais (era seu aniversário), em que sempre, corajosamente, matava um porco para a ceia. E eu assistindo a tudo, óbvio! Era o acontecimento familiar mais esperado do ano, para nós crianças: a carnificina suína. De quando, ainda adolescente, me pedia para fazer suas unhas. Eram mãos finas, trêmulas, enrugadas, de unhas quebradiças, que adorava pintar de vermelho. Sentava na poltrona velha, uma mão estendia para mim, outra pegava um copo de Bavária (sua cerveja preferida) que ela chamava "Babária". Tinha olhos doces e apaixonou-se no fim da vida. Mas foi um amor não-correspondido. Fazer o que. Ficou deprimida, sofreu aos 70, como qualquer mulher de 30. Coisas da vida.
Tenho lembrado de gente que prefiro esquecer, que partiu, que sumiu, desapareceu. Amigos, amores, afetos e desafetos. Como alguém, que é tão especial num dia, em outro não lhe faz a menor falta? Pq perdemos pessoas a quem tanto amamos? Pq as avós não são pra sempre?
Pq uma hora a gente ama e outra desama? Pq não é forever?

Desculpe, Vinícius, mas rejeito o "...eterno enquanto dure".

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