Sem Deus "Bezbog"
Ainda que saibamos que estamos rodeados de injustiça e que o
sorteio para uma possibilidade de vida harmoniosa e feliz aconteça no
berço, ou seja, demande do momento e do local em que entramos nesse mundo;
ainda teimamos em crer que podemos mudar destinos e fazer do mundo um lugar
melhor de se habitar, mesmo percebendo que as coisas parecem caminhar ao
contrário. Para aqueles que nascem e
morrem em locais miseráveis, Sem Deus,
a desesperança se faz presente como parte normal realidade. Ali naquela cidade
Búlgara isolada, onde o comunismo sugou e não socorreu, e o capitalismo chegou
somente na sua forma mais selvagem de corrupção, a população idosa é maioria, o
sistema de seguridade social é burocrático e pouco eficaz, e a enfermeira Gana é
uma dessas cuidadoras/assistentes que vão de casa em casa prestar ajuda aos
mais necessitados, os dementes, os que não tem condições de arcar com seu
próprio sustento. Porém a vida de Gana também não é feliz, ela tem problemas
com a mãe desempregada, é viciada na morfina que furta dos próprios pacientes,
e ainda faz parte do mercado negro de venda de CPF dos idosos para fraudes nos poucos
benefícios que governo ainda disponibiliza. O novo filme da búlgara Ralitza
Petrova, vencedor do Leopardo de Ouro no último Festival de Locarno, é frio,
cinza e triste, mas de alguma forma impressiona exatamente no visual, tendo
como pano de fundo edifícios semiabandonados, violência física e psíquica contra
os mais fracos, e uma total desesperança em qualquer futuro imediato. Os
barulhos que os velhinhos ouvem na madrugada são tiros? Estão matando idosos
que não querem dar seus documentos pessoais? Esses tiros estão soando no prédio? Nós
preferimos nos tranquilizar, imaginando que eles são apenas portas batendo.
Nota 8,0
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