Com relatos e entrevistas dos próprios Afegãos, Em Nome do Meu Povo é uma aula imprescindível sobre o que se passa naquela região marcada por conflitos.

O território do Afeganistão sempre foi zona de lutas, conflitos e massacres. Desde o domínio inglês, passando pela tomada do seu território pela União Soviética, até o poder dos talibãs e a invasão estadunidense, o povo perece pela incontrolável violência de quem quer que esteja à frente do seu comando, e o que é pior, não se visualiza uma perspectiva de paz a curto ou médio prazo. Semana passada o Afeganistão voltou a preencher as primeiras páginas dos principais jornais do mundo pela volta do Talibã ao poder, que para demonstrar força e poder, mal esperou que as forças armadas dos EUA se retirassem como haviam prometido ao final desse ano de 2021, e sem muita dificuldade, dominou estrategicamente a maioria dos estados do país, fazendo com que exército estadunidense batesse em retirada como ocorreu ao final da guerra do Vietnam.

Muito se fala, muito se noticia. E na intenção de nos sitiar no foco do desespero a que se submete o povo daquela região, o professor, filósofo e documentarista Rodrigo Guim segue os passos do dia a dia da ativista política Malalai Joya, conhecida como a mulher mais corajosa do país (não confundir com Malala Yousafzai, militante dos direitos infanto-juvenis que ganhou o Nobel da paz aos 17 anos).

Em Nome do Meu Povo conta com entrevista de historiadores locais e a participação do grande escritor, filósofo e sociólogo Noam Chomsky, tudo conduzido pelo diretor Brasileiro e pela afegã Malalai Joya.  O documentário (disponível na plataforma VIMEO) faz um traçado político e social de toda a história de ocupações, conflitos e sofrimento da população, mostrando principalmente que não há grande diferença entre os que trocam de poder, a violação aos direitos mais básicos do ser humano estão presentes tanto na dominação estadunidense quanto no extremismo religioso dos Talibãs.

É um documentário forte, e confesso que em alguns momentos tive que fechar os olhos. Chorei ao ver o hospital de recém-nascidos com anomalias congênitas resultante dos constantes bombardeios de armas químicas das forças armadas dos EUA em áreas civis, simplesmente por não saberem definir onde estão os inimigos, e assim deliberando que todo o povo, inclusive mulheres grávidas e crianças, são seus alvos. Corroeu-me os nervos o relato da violência doméstica de uma mulher que ateou fogo no próprio corpo. E me doeu ver a tomada do congresso pelo fascismo, mulheres de extrema direita que ameaçam de morte aqueles que lutam por uma democracia onde os próprios afegãos possam ser eleitos sem interferência de países que lá estão somente para pilhar sua matéria prima e fortalecer uma corrupção sem precedentes que enriquece uma elite de menos de 1% da população.

Apesar de chocante e intenso, Em Nome do Meu Povo é um pedido de socorro e uma mensagem de esperança, já que também nos ilumina com aquela pequena tocha no fim do túnel, de mulheres que seguem Malalai Joya em sua luta e na sua busca por um Afeganistão que dê ao seu povo a merecida paz, justiça e acima de tudo, algo que eles nunca tiveram, a liberdade.

Nota. 9,0