Sam Levinson, além de escrever e dirigir o filme, é produtor junto com seus atores, Zendaya e John David Washington. Malcolm & Marie que está na Netflix, é sobre a D.R de um casal que ficou muito tempo em silêncio.

 Um casal chegando tarde da noite em casa depois de algum tipo de cerimônia ou comemoração, que de
início, não nos fica muito claro sobre do que se tratou. Obvio está que a animação dele supera muito a dela. Ele é um dos personagens que dá nome ao título do filme, é um diretor de cinema novato, que ao que parece acertou a mão no seu mais recente trabalho, e ao chegar, abre um vinho, põe uma música animada e começa a dançar de forma comemorativa ao que passou e especialmente ao que pode estar por vir. Ela é a outra personagem que dá nome ao título filme, é uma atriz e está desempregada, e ao chegar sua expressão é de lamento, ou um misto de decepção e tristeza: abre um pacote de macarrão, o joga na agua fervente e aguarda a primeira advertência do marido para pôr os “pratos limpos sobre a mesa”: Por que eu deveria estar tão feliz como você?

Filmado em duas semanas, de forma quase sigilosa, durante a fase mais rigorosa da quarentena, Malcolm & Marie é um filme sobre aquele momento que todos os casais um dia terão que enfrentar, e às vezes, em mais de uma oportunidade, que é a discussão da relação envolvendo todos os problemas e dúvidas que ao longo dos anos vão sendo deixados para trás, ou aquelas situações que as vezes merecem um esclarecimento melhor, mas que pelo bem da relação, fechamos os olhos fingindo que nada aconteceu. Todavia, parece que temos uma gaveta trancada no fundo do nosso coração que serve para acumular essas questões que pensamos um dia esquecer, só que quando essa gaveta enche, e fica totalmente tomada por pequenos, médios e grandes atos a serem deslembrados, ela explode vindo tudo à tona; e Malcolm & Marie vão ter que passar por isso para ver se o amor que sentem um pelo outro é maior que toda a carga de decepções que surgiram em seus caminhos.

Com uma belíssima fotografia em preto e branco, e com quase duas horas de duração, o roteiro se sustenta principalmente pelo diálogo extremamente bem elaborado, que vai dar uma extensão exata tanto do problema que foi o gatilho do começo da discussão, até todos os encalços de uma relação sempre marcada por diferenças sociais e econômicas de um casal que sempre se manteve superando desafios. Os personagens vão sendo construídos a partir das defesas e acusações que se fazem em momentos de altos e baixos movidos a álcool, beijos, carinhos e gritos, e dessa forma, a gente logo toma empatia e começa a entender o ponto de vista de cada um. E vamos absorvendo, principalmente os motivos, para o bem ou para o mal, que fez com Malcolm “se esquecesse” de agradecer a esposa durante seu discurso sobre seu filme que é baseado em momento muito difícil na vida dela. E esse é o ponto da gota d’água de tudo que estava guardado na tal gaveta trancada do coração.

O mérito de filmar em um ambiente fechado e que prenda também o espectador não está somente na elaboração do diálogo, os atores também são responsáveis nessa cativa do público. Zendaya e John David Washington formam um casal muito atraente, e levam isso de forma precisa aos seus personagens, que por se amarem tanto, lograram silêncio por demasiado tempo em coisas que não se pode adiar. O ressentimento e o amor estão ali na sua forma mais pura, e quanto maior é o amor, mais cruéis e violentas podem ser as palavras que estavam mal encoleiradas e prontas a se soltar. E sem querer fazer spoiler e já fazendo, o filme tem uma cena de arrepiar os mais sensíveis e atentos cinéfilos, na hora em que Marie, depois de ouvir rigorosos e pesados desabafos de Malcolm, vai com pensamentos só seus para a banheira, e se despe de roupas e maquiagens para o banho, e naquele momento, cansada de toda a discussão e de tudo que ouviu, não são somente as maquiagens externas das quais ela começa a se livrar.

 

Nota. 9.0

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