Alento (by Cristiane)


Os cães brigam, saem em bando, são atroplelados, até os aleijados e machucados saem atrás da fêmea no cio. Os veados e muitos outros mamíferos brigam até a morte, alguns berram de maneira agonizante, dolorida. Nas ruas, os homens solitários agem nos cantos, observando, sussurrando indecências; indecorosos.

Sei bem por que agem assim, ser macho em certos momentos é ter uma espada enterrada entre as pernas, com sua ponta e um pouco do comprimento de fora. Nada a ver com sonhos, nem com algo errado no interior. Isso vem de fora, espeta o corpo e o arrasta, fazendo-o vencido. É pior no homem do que em qualquer outro animal, pois esses são irracionais, seguem instintos. No homem dura mais, e pode ter início sem provocação, sem odores – como se de repente um dedo apontasse para o céu.

A espada é afiada, de dois gumes, carregando assim o ferimento ao longo de sua extensão. E sua lâmina corta o tempo todo, e a ferida nada mais é que o próprio pênis, agora estranho de tão grande e ereto.
Os três – homem, lâmina e pênis – sabem as mesmas coisas: que o alívio, na sua universalidade, só pode chegar quando a espada é mergulhada no rio buscado por ela.
Somente o rio é capaz de curar suas feridas naquele instante, dissolver a espada e fazer com que o dedo apontado ao céu desapareça. Nós mulheres, rios de alívio, sofrimento e esperança.

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