A exploração do passado e do presente quando três homens se adentram em uma floresta mítica em busca de um futuro sólido.
Estamos diante do novo filme do maior diretor de cinema da
história das Filipinas, o que não é pouco, visto que o pais tem uma imensa
tradição cinematográfica com nomes importantes como Lino Brocka, cujo currículo
carrega mais de 40 filmes; e o grandessíssimo Brillante Mendoza que em 2009
levou a Palma de Ouro de Melhor Direção no Festival de Cannes e tem filmes
majestosos em sua carreira. Mas o que
faz de Lav Diaz o nome mais importante do cinema em seu pais?
Para começar Lav Diaz não faz filmes, ele compõe trilhas,
produz, fotografa, monta e dirige verdadeiras obras de arte para cinéfilos. Seus filmes são
feitos em preto e branco, com tomadas longas, atores poucos conhecidos (ou até amadores) e com
duração que ultrapassa fácil três horas de exibição. Portanto, são filmes para
ser vistos de preferência em cinemas, o que normalmente acontece em Festivais e Mostras cujo público fiel é o do amante inveterado da sétima arte.
Dito isso, vamos falar de “Lahi, Hayop”, traduzido aqui no Brasil como “ Gênero Pan”. Diaz começa o roteiro com o diálogo de dois trabalhadores se
lamentando pela exploração sofrida no garimpo, e na possibilidade de dias
melhores em um convite para trabalhar em uma mina de carvão na
mítica ilha Hugaw, terra natal de Andrés, que teve seu irmão morto pelo poder
miliciano da região, que ainda manda e desmanda por leis coronelista locais.
Por medo de assalto, represálias e demais perigos de chegar
pela rota principal, Andrés e mais dois trabalhadores, optam em se adentrar
por uma floresta lotada de lendas e mitos. A dificuldade financeira e a esperança
de um salário melhor os une e os separa à medida que dialogam, contam fatos
passados e relembram de acontecimentos que marcaram suas trajetórias de
trabalho precário e abusivo. E a história desses três personagens acaba sendo
uma retrospectiva de todos os moradores dessas áreas rurais espalhadas em
milhares de ilhas que fazem parte do território Filipino, onde a pobreza é
galopante e a exploração da mão de obra é praticamente escravista. Mas o
roteiro é também revelador, situações aparentemente surreais e absurdas vão
sendo esclarecidas enquanto os personagens expõem sentimentos guardados a
décadas, e que vão sendo revelados a medida em que, em meio a uma floresta
misteriosa, a confidência passa a ser uma arma na busca da confiança ou mesmo da auto piedade.
Abordando em segundo plano as características e a cultura regional, o diretor é muito feliz na inserção de diálogos que explicam as origens reais do medo do povo pela floresta, e também da geografia estratégica da região, tanto na segunda guerra quanto na batalha do Vietnã, onde por ali passaram e deixaram suas marcas estadunidenses e Japoneses.
“Lahi, Hayop” vai te aproximar de gente que talvez você
jamais conheça, não pela pobreza ou pela exploração laboral, já que nosso país
está cada vez mais se afundando e voltando a era do coronelismo, mas por te
situar em uma comunidade com questões culturais e sociais muito específicas.
Tudo isso com o forte visual de uma fotografia perfeita, e com apenas duas horas
e quarenta minutos de duração. Pequeno para os padrões de Lav Diaz, acredite!
Nota 8,0
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