Com narrativas fortes, eficazes e elegantes, duas estreias da Netflix nesse mês são sobre perdas, tentativas e esperança.
Não conseguir ter ou perder um filho logo após o parto. Esses dois sentimentos que podem modificar a vida dos casais, com reflexos e consequências semelhantes, são explorados em dois lançamentos da Netflix
A empolgação do casal diante da gravidez, a felicidade de
ver o feto se desenvolvendo no útero materno a cada visita ao médico, ou a
esperança da notícia de estar grávida ao final de todas as tentativa de
fertilização em clínicas cada vez mais caras, e sempre com estresse emocional
nas coletas ou nas investidas naturais de se ter o bebê. “Pieces of a Woman” e “Quando
a Vida Acontece (Was Wir Wollten)” vão te levar ao fundo de todos essas
esperanças e desconsolos.
Dos filmes que destacaram na premiação do Oscar de 2020, foi
o de Sam Mendes que mais me chamou a atenção, “1917” parece feito em tomada
única, da primeira à última cena de filme fica a impressão de que o diretor de
fotografia ligou a câmera e não desligou mais até a entrada dos créditos. Claro
que houve cortes e que foi usado efeitos computadorizados, mas sim, o filme é
quase todo feito de tomadas imensas.
Em Pieces of a Woman, o que me impressionou foi a tomada de
quase meia hora e sem cortes da cena inicial do parto. Com dois grandes atores
protagonizando a belíssima cena: Vanessa Kirby e Shia LaBeouf, todo o trabalho
da tentativa do parto normal caseiro é esplêndida; o que rendeu o prêmio de
melhor atriz no festival de Veneza para a Kirby. Dirigido pelo diretor húngaro
Kornél Mundruczó e produzido por Martin Scorsese o longa é uma história de
sonhos dilacerados, de luto, e de uma realidade que se torna intransponível na
vida a dois e também no dia a dia profissional e familiar.
Já em “Quando a Vida Acontece”, filme de estreia da diretora
austríaca Ulrike Kofler, a história aqui é a de tentativa de superação e
reencontro. Ambos na faixa dos 40 anos e com uma vida já estabilizada, as
inúmeras tentativas de engravidar em diversos métodos e clínicas acabam colocando
a prova os verdadeiros sentimentos do casal. Frustrados com essa realidade, e
enervados com a obra cada vez mais onerosa da casa que possuem em Viena, eles resolvem
tirar umas férias em um resort na Itália para terem um pouco de paz e uma nova
lua de mel. Contudo, dois problemas, um interno (as tensões, acusações e
lembranças) e outro externo (um casal bonito que se instala no quarto ao lado,
com filhos com personalidades opostas) mudam a rotina e as perspectivas dessa
temporada que seria de superações.
Ambos os filmes podem trazer bons debates para quem os
assiste, já que as opções e as atitudes dos personagens são verossímeis a
realidade que enfrentam: seja de dor, de esperança, de conformidade ou de
continuidade. Liga lá no Netflix, e bom final de semana com reclusão, sair está matando.
Nota 8,0 (para ambos)
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