Perro Semihundido (By Gian)


Visitando uma feira de antiguidades que acontece aos sábados na praça XV me deparei com uma reprodução do quadro “O Cão” de Goya. Sempre que vejo essa pintura me bate uma melancolia, uma tristeza que não sei de onde nem por que vem. Sob um céu dourado um cão se esconde. Está-se soterrado, sendo levado por uma enxurrada, ou simplesmente observando, eu não sei, mas ele parece ter medo, parece acuado, não suportando aquela imensidão dourada, um universo enigmático e sombrio. Se eu me deparasse com o original certamente choraria. O que passava pela cabeça do pintor ao lançar aquelas tintas? Foi proposital aquela imagem. Dizem que ao olharmos de perto, a obra original no museu de Prado, vemos que não se trará exatamente de um cão, e sim de um borrão, um perfeito borrão no momento de extrema inspiração de Goya, e que me deixa triste. Perguntei o preço, cinqüenta Reais. Justo. Mas estava duro, não comprei. Já dentro das barcas fiquei feliz pela minha decisão, jamais penduraria aquilo, triste demais. Durante anos Goya pintava para poder comer, desenhava retratos encomendados e recebia migalhas, fazia obras como essa, que retratava a solidão e a tristeza, situações que o pintor sentiu na própria pele e que até hoje incomoda a gente num lindo sábado de sol no centro do Rio de Janeiro.

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