Amor Suicída
A revolução francesa aconteceu, rolaram cabeças em um país
bem próximo, e o povo clama por direitos sociais. Os lemas liberdade, igualdade
e fraternidade são levantados, são impostos, estão em expansão, e o clamor por
igualdade é a grande pedra no sapato da alta sociedade no começo do século XIX.
É esse o ambiente que o fio condutor de AmourFou percorre e entra na intimidade da alta sociedade alemã e no seu
medo de perder os privilégios conquistados através da exploração da classe
pobre: dos altos impostos obrigatórios somente para quem tem pouco poder
aquisitivo, dos baixos salários para os que mais trabalham e de toda uma
repressão econômica e social que contrastava no conforto de poucos e na miséria
de muitos. Agora os agricultores começam a não pertencer mais ao senhor feudal,
começam a se negar a pagar altos impostos e a se mobilizar contra as injustiças
de uma classe que até então se julgava intocável.
A diretora húngara Jessica Hausner
usa como pano de fundo esse cenário em ruínas para contar a história real do
poeta Heinrich von Kleist, que começa a perceber as mudanças repentinas na
sociedade e perde a vontade de viver, e a partir daí tenta convencer a mulher
que ama a se suicidar junto com ele; e diante da negativa da mulher amada, que
também é sua prima, o poeta busca alternativa na fragilidade de outra uma
mulher, casada, mas que tem uma doença que segundo os médicos é incurável e
fatal.
Amour Fou faz uma leitura interessante
do egoísmo, tanto econômico quanto sentimental. Mostra o amor sem paixão, foca
na perspectiva de pessoas em manter as aparências. Contudo, para que isso seja
perceptível, o filme se concentra mais na amante de suicídio do que no próprio
poeta. Mostra o lado humano da mulher, antes feliz como esposa e mãe, e agora atacada
por uma doença não diagnosticada, que, ou dizem ser fatal ou simplesmente atenuam
como “coisas de mulher”, e acaba assim fragilizada e comovida com a estranha proposta
do poeta, de quem também é fã.
Nota, 85
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