Em Pedaços "Aus dem Nichts"
Em tempos de intolerância política e preconceito de classe, onde
ao lado da nossa casa o assassinato covarde de Merielle Franco é menosprezado e
até mesmo aplaudido, e um pouco além dos muros do nosso quintal o neofascismo é
construído com a inércia de grande parte da sociedade, o nosso filme de Fatih
Akın cai como uma luva. Descendente direto de turcos, mas nascido na Alemanha,
o diretor já sentiu na pele o preconceito e a dificuldade de manter suas
tradições em um pais com forte histórico de violência racial. Divido em três
partes que poderiam muito bem servir como curta metragens independentes, mas que se
completam, o filme toma como prioridade a visão feminina da viúva, que perde o
marido e filho de seis anos em uma explosão terrorista em frete ao
estabelecimento de trabalho, restando claro que o alvo era realmente as
vítimas. Apesar de quase totalmente
linear – com a exceção das poucas passagens de lembranças e saudades da
personagem principal – é impossível não voltarmos ao passado para fazermos uma
avaliação do ocorrido, e até mesmo nos colocarmos no lugar dessa família de
origem estrangeira que por problemas em um passado remoto quase se transforma
em culpada, mesmo com toda a obviedade das provas mostrada no tribunal sobre a
motivação do atentado. Para os espectadores da área jurídica (como eu), o filme
tem um atrativo a mais: a ratificação de que as vezes por mais que lutamos por uma
verdade, teremos contra nós reacionários, partidários ou não da extrema
direita, que farão de tudo para que a impunidade prevaleça, para assim camuflarem
o ódio e o preconceito, dando ainda mais forças ao machismo, xenofobismo,
homofobia e toda a violência direcionada às classes economicamente menos favorecidas.
Acima de tudo, é uma denunciação a nova tendência de inverter valores. Foi
premiado no Festival de Cannes 2017 – Melhor Atriz – Diane Kruger, e levou o Globo
de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Nota 9.5
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