Censurado até hoje no Brasil, Marighella de Wagner Moura, é um filme essencial sobre a resistência a ditadura e ao Fascismo.

 

 Me senti um verdadeiro exilado ao assistir o primeiro filme dirigido pelo magnifico Wagner Moura.
Marighella que estreou no Festival de Cinema de Berlim há mais de dois anos, foi alvo de censura pelo nosso governo federal Fascista, e até então não conseguiu estrear nos cinemas daqui. Aos poucos, e meio que silenciosamente, o filme começa a circular pela internet. O produtor Fernando Meirelles já se manifestou dizendo que “o filme deveria ir para os cinemas por uma semana, e depois ser liberado ao público”. Com estreia nos EUA no final do mês passado, o filme chegou por aqui com legendas em inglês. Então, me senti no cinema de um pais estrangeiro assistindo a um filme brasileiro cuja história e trajetória eu ando acompanhando há muitos anos.

O começo do filme já é com emoção de fazer o coração palpitar com vontade: ao som das batidas de Chico Science e Nação Zumbi, o Grupo Ação Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella invade um trem carregado de armamentos e confisca tudo em nome da luta armada contra o regime ditatorial dos milicos, e sem seguir um roteiro linear, a trajetória dos cincos últimos anos de vida do revolucionário começa a ser contada.

São mais de duas horas e meia de tesão crescente, expectativa e medo. Seu Jorge faz seu papel na pele do revolucionário que talvez só esteja atrás de Che Guevara entre as personalidades mais amadas e odiadas das Américas, e sob a direção segura de Wagner Moura, conduz a narrativa em diferentes modalidades, traçando a vida de Marighella tanto na perspectiva pessoal - no afeto com a família, nas saudades do filho - quanto do lado do guerrilheiro em busca de desamarrar o Brasil das pesadas cordas do estado ditatorial, da vontade de mostrar para o povo o que realmente está acontecendo por trás das notícias censuradas e das barras de ferro de terror, tortura e morte do porões do DOPS.

Talvez a principal força do roteiro esteja na honestidade utilizada pelo diretor e roteirista para ultrapassar a figura mítica de Marighella e nos adentrar nas suas vulnerabilidades do homem e figura pública de sua época. De todo o caráter e cuidado que tinha tanto com seus companheiros, como na motivação que o compelia a ser o principal articulador da necessidade de enfrentamento dos militares pela luta armada.

Declarado como inimigo N° 1 dos militares em todos os momentos da ditadura, a figura de Marighella até hoje é um fantasma que assombra os pesadelos dos golpistas e daqueles que tem os anos de chumbo como referência de bons tempos. A coragem do Mulato Baiano em encarar de frente os generais de dez estrelas que ficam atrás de mesa com o cu na mão ainda paira no ar como um ato de resistência heroico, aquele pontapé inicial que começou a tirar as forças da repressão covarde que foi a ditadura militar, cuja semente brotou dentro de cada um de nós com espírito de luta contra o poder fascista e seus cúmplices.

Hoje, vivemos o pior momento do Brasil em todos os tempos de república, e posso dizer que a fagulha acessa por Carlos Marighella está incendiando nas nossas mentes e corações. Não vamos ficar calados.

 

Nota. 9.0

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