Forte, devastador, mas firme em sua denúncia, "Uma Mulher Extraordinária" expõe as consequências de uma mulher ao tentar ser livre.
Narrado em primeira pessoa, direto e reto, o discurso já se
inicia quebrando o suspense sobre o que
aconteceu com a jovem turca-curda Hatan
“Aynur” Surucu, que com 23 anos é assassinada pelo irmão mais novo, com vários
tiros a queima roupa. O motivo? Ter
abandonado o marido agressor e ter tentado seguir uma vida aos padrões
ocidentais. A voz da vítima (interpretada pela magnífica Almila Bagriacik) já
nos remete para seu corpo, coberto por um plástico, em uma imagem real na
calçada de uma rua de pouco movimento na Alemanha, onde a jovem deu seu último
suspiro de vida.
Uma Mulher extraordinária (Nur eine Frau) é a comovente
reconstrução do feminicídio ocorrido em Berlim em 2005, e que dominou
amplamente os tabloides da época reacendendo a discussão sobre a cultura
islâmica passada por gerações em países ocidentais cuja educação se espelha em
um fundamentalismo religioso que acaba por transgredir suas legislações (ou no mínimo
as garantias fundamentais inerentes a qualquer ser humano).
Tendo como base a história real desse feminicídio, o filme é
um raio x das consequências que sofre uma mulher ao dizer "não" para os
mandamentos de uma religião mulçumana, mesmo que isso ocorra em um país que
promova amplamente os direitos humanos. A reconstrução desse crime começa em
1988, quando a jovem, com apenas 15 anos é obrigada a abandonar a escola para
se casar com um primo muito mais velho que mal conhece, tendo com ele um bebê. E ao
ser espancada, ela foge e vai para casa dos pais, que apesar de a aceitarem,
mudam o tratamento como se ela fosse uma visita a ser suportada com uma
incômoda criança de colo.
O ódio da família cresce ainda mais, quando ela, ao ser
abusada por um dos irmãos, resolve sair também da casa dos pais e tentar a vida como eletricista
mecânica, contando com o apoio da assistência social alemã e daqueles
mulçumanos que não mais seguem a rigorosa tradição do fundamentalismo religioso
repressivo às mulheres. E quando ela decide abandonar a tradicional burca, e
usar brincos, maquiagens e ir a boates, sua família se reúne e acha que o
desrespeito a honra familiar já está indo longe demais.
O filme intercala fotografias e imagens reais da época de
acordo com seus acontecimentos no roteiro, dando assim uma ampla visão de todo acúmulo
de negações, preconceitos e ressentimentos causados pela libertação feminina,
cujo objetivo concreto da jovem Aynur era apenas ser feliz e dar uma
oportunidade de vida diferente para seu filho. Mas o ódio não deixou.
Nota 8,5
Comentários
Postar um comentário