Para onde seguir quando seu coração não cabe mais onde está?

Não dá para ficar escrevendo, e muito menos pronunciando, os nomes dos diretores de cinema
tailandeses. Há 11 anos, o filme “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” ganhava a cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes, e o apresentador deve ter tido dificuldades ao chamar Apichatpong Weerasethakul ao palco para entregar a premiação.

Agora, no penúltimo festival de cinema de Veneza, outro conterrâneo de nome impronunciável levantava um dos prêmios mais cobiçados da noite, o troféu “Orizzonti”, que é dado ao diretor com a visão mais ampla para as novas tendências nas linguagens expressivas que convergem no cinema, e Phuttiphong Aroonpheng foi chamado para receber mais um dos vários prêmios que “ Manta Ray” já conquistou mundo afora.



Assim como “Tio Boonmee”, Manta Ray também dá uma flertada, só que bem mais de leve, com o misticismo, o sobrenatural, ou o imaterial que uma ampla floresta esconde na sua infinita história.  Contudo, nenhum dos dois filmes são do gênero terror ou suspense, longe demais disso, pelo contrário, é o simbolismo da essência da vida, aqui mostrado através de um extraordinário visual de pequenas luzes enigmáticas que percorrem os personagens como uma parábola da solidão, ou mesmo da identidade.

O filme gira em torno de um encontro que já carrega uma grande sombra obscura nos acontecimentos: Um pescador, (abandonado pela esposa que lhe trocou por outro), nas horas vagas entra na floresta para procurar pedras preciosas que depois serão jogadas ao mar para atrair peixes manta gigantes. Em uma dessas incursões, ele encontra um homem baleado no tórax, já quase sem vida. Ele o resgata, cuida, alimenta, abriga e lhe dá um nome, pois ao que aparenta, o homem é mudo.  Com o passar do tempo, uma grande amizade e cumplicidade se estabelece entre os dois, até o dia que pescador desaparece no mar, e a sua esposa retorna para casa.

Minimalista, hipnótico, belo e por vezes confuso, Manta Ray é um bonito conto sobre as constantes mudanças que obrigatoriamente passamos ao longo da nossa existência. Um dia temos muito chão, outro dia muitas barreiras, e em outro podemos ter tudo ou nada. É uma homenagem a todos aqueles que perderam seu porto seguro e não tinham para onde ir.

Nota 8.0

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