Alternado leveza e peso, François Ozon fala sobre o amor adolescente nos anos oitenta.

Aqueles que já frequentaram um pouquinho o Festival de Cinema do Rio, que enfrentaram filas enormes para ver as estreias dos seus diretores favoritos, sabem que têm filmes cujos ingressos são praticamente disputados a tapas. Três nomes do cinema europeu exigem esforços do cinéfilo para um
lugarzinho dentro da sala de cinema, são eles Pedro Almodóvar, Lars Von Trier e François Ozon. Cineastas consagrados, premiados e venerados, essas caras na maioria das vezes conseguem ser mais famosos que os atores de seus filmes. O Novo filme de François “Verão de 85” exibido oficialmente nos Festivais de San Sabastian, Toronto e Cannes de 2020, é o trabalho mais fraco do diretor, mas não é de todo ruim.

Mesmo sem saber quase nada sobre produção e roteiro, com vinte minutos de filme eu já tinha adivinhado algumas coisas da história e que a mesma com certeza era baseada em algum livro. E sim, Ozon aos dezessete anos leu o romance inglês “Dance on My Grave" e esse virou seu livro de cabeceira durante uns bons anos. E agora, já com dezoito filmes na bagagem, ele resolveu levar a história de dois jovens que repentinamente se conhecem e se apaixonam em um verão da década de oitenta, e que, como acontece em inúmeras paixões, é avassaladora e limitada. E quem não se apaixonaria por aquele que te salva e vida? Esse é o começo da história, quando o barco do jovem Alex, que acaba de fazer dezesseis anos, vira no mar em um prelúdio de tempestade, e passando por ali “ao acaso(?)”, está David, dois anos mais velho, sarado, extrovertido e sedutor, que já o ensina a virar o barco para cima e o leva para casa, onde sua mãe o trata como um filho, tirando toda sua roupa, oferecendo uma banheira com aguas escaldantes e um prato de comida saboroso. A partir daí o envolvimento dos dois cresce, e começa uma relação que apesar de intensa, tem diferentes interpretações por parte dos envolvidos. O filme tem muito clichê, e a história não empolga tanto, a narrativa em primeira pessoa, cria uma áurea de mistério, visto que nas primeiras falas do filme já se anuncia que um deles é um cadáver, então é tudo um misto de comédia romântica com uma pequena dose de suspense.

Todavia, o diretor quando é bom, é bom, e o filme deve ser visto por vários aspectos, a começar pelos atores que interpretam o casal gay, Félix Lefebvre e Benjamin Voisin, que são uma graça, e Lefebvre, na sua forma de atuar, me lembrou River Phoenix em seus melhores momentos, como em “Conta Comigo”. Já o clima dos anos oitenta está presente por todo o longa, e não só na fotografia e no figurino, como também nos acontecimentos e na trilha sonora, o filme é uma homenagem a década, com músicas de The Cure, Rod Stewart.

Por estarmos revivendo as memórias de um jovem de 16 anos que se apaixona pela primeira vez na vida, podemos relevar alguns exageros e falhas de roteiro, afinal, quem não romantizou demais um amor antigo e acabou exagerando em fatos e acontecimentos? E é partir dessa premissa que o filme se baseia. E Ozon é muito feliz em tratar a homossexualidade do casal com total naturalidade, sendo a única referência que o filme dá ao preconceito está em uma citação da mãe do jovem em dizer que “ um tio é afastado da família por gostar de se vestir de mulher”. Está aí a sensatez do diretor de não ter a intenção de fazer um filme de protesto, mas de dar um toque de que a homofobia está lá presente sim. Embora o resultado não tenha sido o esperado, pois não estamos diante de uma grande obra que trata do amor homossexual como em “Me chame Pelo Seu Nome” do italiano Luca Guadagnino, François Ozon consegue capturar a complexidade que um relacionamento adolescente acarreta quando os sentimentos do casal não estão alinhados.

Nota 7.0

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