Do navio negreiro ao preconceito cotidiano, o primeiro livro de Eliane Alves Cruz traça o caminho de seus antepassados.

 O livro tem capa de romance e título de romance, mas ao abri-lo e começar a folheá-lo já se nota que
é uma biografia com árvore genealógica e fotos verdadeiras dos ascendentes da autora, a carioca Eliana Alves Cruz, Jornalista, formada em Comunicação social. A história se inicia com o aniversário de 100 anos da avó da escritora, umas das muitas personagens principais do livro, que narraram e ouviram as memórias de seus antecedentes desde a captura de Akin Shangokunle e Ewa Oluwa em terras africanas, a travessia no navio negreiro, suas vendas a colonos brancos aqui em terras brasileiras, até os dias de hoje, das lutas e problemas diários que acabam se entrelaçando com a história do nosso País.

A oralidade sempre foi o principal aliado da resistência negra no Brasil. Proibidos de frequentar escola, de se alfabetizarem e sempre reprendidos em dar continuidade nas suas culturas de origens, a rica história dos povos afro-brasileiros se manteve viva através da memória de gerações que passavam para outras gerações em contação de histórias seus relatos familiares e vivências dos antepassados. Os poucos que arriscavam a vida para aprender a ler e a escrever, careciam de publicidades e raramente tinhas seus escritos levados a sério. Mas aos poucos isso começava a ser modificado, e  “Águas de Barrela” nos traça esse longo e tortuoso caminho que a família da escritora percorreu, do navio negreiro ao primeiro bacharel em direito da família.

É um livro magnífico, que relata de forma simples, mas eficaz, toda a trajetória do preconceito e do racismo. De seres humanos que arrancados de seu continente são renegados a uma existência infra-humana, para a exploração do trabalho forçado e a subjugação de qualquer coisa que tenham de valor. E nos relatos, a autora nos conduz pelos barracões e senzalas, pelas dores e incertezas de mulheres fortes, que abrem os olhos a cada manhã para se manterem vivas, pelas famílias, pelos filhos que não podem passar pelas mesmas condições que elas, e pela luta da avó Damiana, que percebe que a educação e a leitura são os únicos caminhos da verdadeira liberdade sonhada desde a escravidão até os dias de hoje.

Um livro que deve ser lido obrigatoriamente, feito da narrativa passada por gerações e de riquíssimas pesquisas feitas pela autora.

 

Nota 10

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