Uma gama de distintas vozes de contemporâneos escritores negros nos falam sobre a morte em "Terras de Palavras"
Existe um ditado entre leitores que diz assim: Não é você que escolhe o livro que vai ler,
é o livro que te escolhe. Obviamente isso não acontece com todos eles,
as vezes a gente cisma com algum livro e vai até o inferno atrás. Foi o
que aconteceu com “Os Escândalos de
Clochemerle”, só porque eu li em uma entrevista antiga do Jorge Amado que
esse livro era um dos melhores da sua vida, que saí procurando por sebos e só
fui encontrar no site do Estante Virtual (é um livro bem legal, mas não é isso
tudo que o nosso escritor comunista Itabuense proclamou na entrevista).
Todavia, tem vezes que realmente o livro é que te escolhe.
Estava eu lendo o “Águas de Barrela” – que diga-se de passagem foi um livro que
também me escolheu – quando uma professora interrompeu minha
concentração para dizer que conheceu a autora Eliane Alves Cruz em uma
palestra sobre escritores negros brasileiros, e que já havia comprado o novo
romance dela, mas que esse que eu estava lendo ela ainda não tinha. Com a
promessa de empresta-lo assim que eu terminasse, ela foi até a sua casa e me
trouxe o livro “Terra de Palavras”, uma antologia de contos de autores negros
brasileiros, caribenhos e africanos, organizados pela Fernanda Felisberto, Doutora
pelo Programa de Literatura Comparada da UERJ, e especialista em Literatura
afro-americana e negro-brasileira.
Pronto, o livro me escolheu. Caiu em minhas mãos um livro daqueles que você não
quer mais largar. São dez contos que basicamente, e cada um à sua maneira, relatam
a morte, física ou sentida, real ou metafórica, porém impactantes. Do
jardineiro que é contratado para buscar corpos das prostitutas da cidade mortas
por uma enchente, passando pelos conflitos religiosos na cerimônia de um
velório, até à linda Miss da cidade que se definha no quarto de um hospital na
esperança de uma visita do namorado, todos têm a face da morte rondando por
perto. Páginas que variam em gêneros literários, mas que nos colocam um
pouquinho perto das consequências da esperança, da doença, da morte e também do
amor.
É claro que em um livro de contos, onde a maioria dos
autores são desconhecidos (eu só conhecia o carioca Nei Lopes nesse), você se
identifica com vários, e daí já anota seus nomes para buscar novos livros e
abrir novos horizontes nessa belíssima, rica e pouquíssima conhecida literatura
negra contemporânea. Os autores dos contos, além do Nei Lopes, são: Lande
Onawale, Katia Santos (ao meu ver, o conto mais “soco no estômago” do livro, me
fez chorar dentro do ônibus), Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa, Eduardo H. P.
de Oliveira, Cuti (Luis Silva), Marco Manto Costa, Mayra Santos-Febres e
Micheline Coulibaly.
Nota: 9,0
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