O inferno está vazio, os demônios estão todos aqui.

 Representante de Georgia na seleção de filmes que podem concorrer ao Oscar desse ano na categoria
de melhor em língua estrangeira, Beginning provavelmente será o filme mais polêmico apresentado ao festival. Exibido na première de Cannes e vencedor de todos os prêmios principais em Toronto, Beginning está sendo cobiçado pelos mais importantes festivais internacionais, e já está na lista nos de Nova Iorque e San Sebastian. Mas o que fez com que um filme Georgiano, de estreia de uma jovem diretora em longas metragens, virasse item cultuado pela crítica especializada internacional?

Com tomadas excessivamente longas, a história se inicia dentro de um salão de reunião de um grupo de Testemunhas de Jeová, com três crianças sendo colocadas de castigo de frente para a parede, e com o início do culto em que o pastor começa a explicar os motivos de Deus ter pedido a Abraão que sacrificasse seu filho Isaque. Com apenas oito minutos de reunião um grupo extremista abre a porta do salão e atira uma bomba incendiária, que por pouco não fere os fiéis, mas que destrói completamente o templo.

A partir daí começa uma via Crusis na vida da mulher do pastor, a protagonista Yana, que se recusa a ir com o marido para a capital para levantar dinheiro para um novo templo, e fica sozinha com o filho em uma região onde sua presença não é bem-vinda para outros grupos religiosos.  

Atraente, sozinha e vitimada pelo machismo e pela intolerância religiosa, Yana começa a sofrer abusos sexuais de um homem que se diz detetive de polícia. E é a partir daí que a jovem diretora georgiana Dea Kulumbegashvili, que também assina o roteiro, nos cutuca com força no sentido da crítica, costumes e reações a uma sociedade patriarcal podre.

É na resiliência, no estoicismo de uma mulher vítima de estupro, que a história vai focar. Mas não sem mostrar a estupidez humana, a covardia, a impunidade e o sadismo. E talvez para amenizar o impacto disso tudo a diretora tenha escolhido filmar algumas cenas a certa distância, porque o esteticismo e a violência, quando tão próxima a nossa realidade misógina, incomoda, mesmo sendo o filme uma ficção.

Visualmente Beginnig é um filme muito bonito, mas mesmo assim as tomadas longas podem cansar o expectador. Durante uma cena do filme, em que a protagonista está deitada na grana, eu só achei que o filme não havia travado porque tinhas formigas andando em uma folha; para vocês verem que não estou exagerando nesse aspecto fotográfico do longa. Todavia, essa linguagem visual argumentativa é utilizada para um aprofundamento real das emoções da personagem, cujo silêncio é o seu principal meio de defesa para os ataques que sofre, dentro e fora da família.

 

 

Nota: 8,5

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